terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Tudo bem em Jerusalém

A parte velha de Jerusalém é organizada em 'quarters'. São partes dela, na verdade. É interessante caminhar por eles. Só evitamos a parte dos ortodoxos, reconhecidos extremistas que têm arranjado encrencas sucessivas com a polícia e os demais grupos religiosos, inclusive os próprios judeus, exigindo que os seus preceitos sejam compartilhados por toda a cidade. Ainda assim, é possível circular sem problemas pelos demais: cristão, judeu, muçulmano e armênio.

Nós entramos por um portão que se chama Damasco. Caímos direto num mercado persa (persa?) com barracas que vendiam legumes, importados, tecidos, sucos, sanduíches, brinquedos, sapatos, roupas. De um pequeno pátio aberto, seguimos por uma galeria estreita ladeada por infinitas barracas e aquele barulho característico. 200 metros a pé e chegamos ao nosso hotel. Largamos as malas e continuamos em frente. Mais 50 metros e uma placa na esquina declarava que chegáramos à Via Dolorosa.

Juliana tinha comprado um livro sobre as várias facetas de Jerusalém e foi orientando nosso percurso com uma leitura cheia de cor - a prisão, o julgamento, a caminhada, o primeiro tombo, a mãe, mais um tropeço, a mão apoiada na parede, o terceiro tombo, novamente a mãe em sua dor incurável, as mulheres em prantos, a chegada ao local onde seria fincada a cruz e a marca, metros abaixo, de onde a rocha dura se rompeu naquele momento. O local do sepultamento. As capelas de várias vertentes em volta. À nossa passagem, avistávamos lojas e bancas emparelhadas formando um longo mercado. No chão, aqui e ali, pedras do século zero. Aquelas mesmas...

Passamos no hotel e, agasalhados, rumamos para o Jewish Quarter, cruzando o barulhento bairro muçulmano. Ali, o que se via eram lojinhas também enfileiradas, embora com outros produtos à venda - não mais crucifixos, e sim bijouterias vistosas, lenços de cabeça, longas vestes escuras e produtos de maquiagem para os olhos.

Ao chegarmos ao bairro judeu, uma Jerusalém diferente surgia. Paredes e calçamentos refeitos, lojas de grife e galerias de arte. Ruas mais largas e com menos gente. Seguimos calmos em direção ao Muro das Lamentações. De repente, um jardim e escadarias que desciam. Ao fundo, lá estava ele.

A gente lamenta que as coisas sejam assim, mas passa por nova revista de bolsas e raio X (aliás, isso acontece até para entrar em shopping center). A partir de um pátio largo, os 50 metros de muro que sobraram são divididos em duas metades, sendo uma para homens e outra para mulheres. Parei no pátio e pensei nas pessoas que amo. Fiz uma listinha de nomes (sim, sim, o seu está ali!) e segui até lá. Com a testa apoiada no muro ou sentadas em cadeiras, dezenas de mulheres em silêncio. Aqui, a fé assumia nova dimensão, sem cerimônias, sem luxo, sem cânticos, sem fotos. Só fervor compenetrado. Conversei com meus próprios anjos, coloquei meu papelzinho num vão do muro e saí de costas, como todas as demais - ninguém fica de costas para o Muro. Você vai andando para trás devagar, continua refletindo. E exatamente atrás do Muro, vê a cúpula dourada da Grande Mesquita, um dos principais templos muçulmanos. Estava sol e tudo parecia em paz...

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