terça-feira, 18 de maio de 2010

Bollywood

Eis o grupo que foi para a Índia e o propósito. Esta era para ser uma caricatura em imagem. Virou uma
caricatura em palavras. Faça o desenho na sua cabeça!

Imagine cinco mulheres, cada qual com um colar de flores em volta do pescoço (todo hotel acolhe a gente com esse carinho).

Monique segue na frente, muito alta, loira e apressada, com um mapa aberto numa mão e uma máquina fotográfica na outra. Ela chama as demais enquanto liga para a agência e, simultaneamente, indica um ponto turístico e telefona para o Zé, seu marido, para saber se está tudo bem. Se surpreende a cada pinheiro, vaca ou pedregulho que vê, gritando Uôu!

Priscila, pequena, com uma filmadora e usando o uniforme de Super Dínamo. Ela entoa mantras e, dotada de ousadia, ameaça se atirar de despenhadeiros pendurada num lenço dobrado como asa delta, pular de cachoeiras em cima de um bote/casca de amêndoa ou dirigir caminhões com os olhos vendados. Amarrou uma corda no pulso do nosso Sexta-feira e o obriga a ficar repetindo os versos do Mahabharata na ordem correta.

Cleyde, sua mãe, vem voando no lindo tapete que comprou enquanto dá voos rasantes e tenta arrancar o troco da mão de um vendedor, alegando que o preço ainda não está bom. Cada vez que larga o pescoço dele, pede que lhe traga um tchai. Está com a roupa da Smurfette.

Erika vem vestida num traje típico chamado Punjab com muitas jóias no pescoço e nos pulsos. Arrasta uma mala imensa e vai arrancando coisas de dentro dela, dizendo que ainda está muito pesada e que não vão deixá-la embarcar no próximo voo. Lá dentro, por um buraco no zíper que teima em não fechar mais, vê-se kit de manicure, serra tico-tico, trena, grão-de-bico, fumo de corda, rolhas de diversos tamanhos, pó de mico...

Elidia veste um casaco e aponta para cada floco de neve, por mais minúsculo que seja. Come pimentas enormes, sorrindo. A cada metro, pega mais uma pedra no chão e anota onde a encontrou – sua mala já parece um carrinho de mão. Traz um caderninho amarelo numa mão e, na outra, lápis, borracha e apontador. Escreve ali cada suspiro que as outras dão. Reclama que sua bota está suja, enquanto tem ideias compulsivamente. Nenhuma delas vale a pena.

Ao lado delas, vê-se uma van branca com os quatro pneus arriados pelo peso da bagagem.

O guia, conhecido como Sexta-feira, é um ponto de interrogação miúdo e tenta explicar coisas para as cinco ou indicar-lhes um caminho, inevitavelmente sem sucesso. E as perguntas e os pedidos se sucedem e se sobrepõem – elas pedem para fazer xixi, fechar a janela do carro, gritam nas curvas fechadas. Falam, todas, ao mesmo tempo. O pobre diabo dirige a van cada vez mais rápido, tentando deixar o barulho delas para trás. Pensa em outras profissões possíveis, mesmo que não sejam rentáveis. Há situações em que dinheiro é o de menos...

Em volta desta cena de terror, 22 milhões de peregrinos em roupas cor de laranja, tocando apitos e buzinas. Vêm de todas as direções em motos, bicicletas, tuc-tucs, caminhões e carros e seguem para o Rio Ganges. Monges tibetanos meditam, tentando manter a sanidade. Vacas, iaques, cachorros, camelos, elefantes, dromedários, cabras, carneiros, búfalos, cavalos e jumentos também estão presos no congestionamento. Ao fundo disso tudo, vê-se uma ponta do Himalaia, um pedaço do Taj Mahal, uma lojinha de incensos e a placa indicativa de um hotel.

E como dizem os indianos, “Chalô!” (Vamos!)

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